O segredo do varejo é a renda

Medidas econômicas garantem o poder de compra das famílias. Mas até quando?

As vendas no comércio varejista brasileiro cresceram 5,2% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, informa o último balanço do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o varejo ampliado, que inclui lojas de veículos e material de construção, além de atacadistas na área de alimentos e bebidas, registrou uma expansão um pouco menor entre janeiro e junho: 4,3%.

Claro que a expansão não é igual em todos os setores. Dos 11 segmentos pesquisados pelo IBGE, sete registraram alta e quatro tiveram queda nas vendas. O varejo de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, por exemplo, cresceu 14% no primeiro semestre enquanto o segmento de roupas e calçados encolheu 0,4%.

De uma forma geral, são resultados expressivos diante de um Produto Interno Bruto (PIB) que deve crescer, no máximo, 2,5% neste ano. Qual seria então o segredo para esse bom desempenho do comércio em 2024?

A resposta é a renda. O governo federal vem adotando várias medidas que garantem a expansão do poder de compra das famílias brasileiras. O Bolsa Família, que paga mensalmente R$ 600 para as famílias cadastradas, foi turbinado com mais R$ 150 por criança e R$ 50 por adolescente.

O salário mínimo recebeu reajuste bem acima da inflação com alta de 8,9% em 2023 e de 7% em 2024, o que impacta a vida de milhões de aposentados pelo INSS. A remuneração dos servidores federais aumentou 9% no ano passado enquanto o valor do auxílio-alimentação dos funcionários públicos subiu 43,6% em 2023, passando de R$ 458 para R$ 658, e saltou mais 52% neste ano, totalizando R$ 1.000.

O Congresso também aprovou a isenção de Imposto de Renda para os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos, o que gera uma sobra maior de dinheiro na conta corrente de milhões de brasileiros. O aquecimento do mercado de trabalho também contribui para o aumento da massa salarial. Pela primeira vez na história, o Brasil superou a marca de 100 milhões de pessoas ocupadas e, portanto, remuneradas.

No ano passado, a renda média domiciliar per capita cresceu 11,5%, chegando ao recorde de R$ 1.848. Em 2024, esse valor deve crescer novamente acima da inflação, estabelecendo nova marca histórica. Não é à toa que tem mais dinheiro circulando na economia.

Por questões culturais e até mesmo por falta de educação financeira, os brasileiros tendem a consumir mais quando sua renda cresce – no Japão, por exemplo, a história é bem diferente. A pequena redução de juros promovida pelo Banco Central (desde agosto do ano passado, a Selic passou de R$ 13,75% para 10,5% ao ano) também contribuiu para uma retomada gradual do crédito, o que ajuda a impulsionar as vendas de bens duráveis como eletrônicos, móveis e veículos.

O governo federal não dá sinais de que pretende retroceder nas medidas econômicas que vêm turbinando a renda média do brasileiro. Porém, precisamos destacar que o atual rombo fiscal impede uma expansão maior dos programas sociais e limita os reajustes salariais, o que pode atrapalhar as vendas do comércio no futuro. Há ainda o risco de o Banco Central subir a Selic até o fim do ano, o que encareceria o crédito.

Como o varejo é movido pela renda, é previsível uma leve desaceleração do consumo (não confundir com queda nas vendas) no ano que vem. Enquanto o consumo das famílias vem crescendo no ritmo de 3% em 2023 e em 2024, a expectativa é de uma alta de 2% no ano que vem. É um cenário um pouco mais restritivo para o varejo, mas ainda assim muito promissor.

 

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